ATÉ QUE PONTO, DE FATO, NOS COMUNICAMOS?*

por Adriana Feder (editorial do FALAÇÃO 2)

*Este título faz referência a um livro do jornalista Ciro Marcondes Filho no qual ele questiona o processo comunicacional

O que precisamos para ser jornalistas? “Ler jornal todo dia, estar informado sobre tudo, acumular conhecimento”, alguns grisalhos com décadas de profissão vão aconselhar. “Começar a carreira desde cedo, adquirir muita experiência”, outros velhos de estrada gritarão pelos quatro ventos.
Estamos cansados de ouvir isso. Não que não seja importante, mas quando as coisas são colocadas dessa maneira se deixa de lado aquilo que deveria ser o mais básico na nossa profissão: o êxtase pelo ser humano.
É por causa dessa inversão de valores que nós, alunos em pleno curso de comunicação entramos e saímos da faculdade no piloto automático, nos dividimos em “panelinhas” e conversamos todos os dias apenas com o restrito grupo que nos é familiar, assistimos aulas monótonas que não estimulam o debate.
Criticamos na primeira edição as aulas semi-presenciais, mas agora também criticamos as presenciais, pois de nada adianta irmos todos os dias para a faculdade para entramos na sala mudos e sairmos calados como se fossemos uma grande massa uniforme, uma colônia de formigas a ser doutrinada. De vez em quando um levanta a mão, cria uma pequena polêmica aqui e ali, mas aí dá a hora do intervalo e pronto!- estamos livres de ter que pensar. As aulas que não atraem a participação, apenas fornecem o aclamado “acúmulo de conhecimento”: é saber para saber. Isso despolitiza, quebra as formas coletivas e perde o potencial questionador que a juventude tem numa sociedade, ou melhor, faz com que a gente se sinta impotente.
Pagamos para estudar lá, mas isso não significa que a educação tenha que vir em forma de produto enlatado, de mercadoria pronta- não como um processo contínuo de construção coletiva.
Quebrem o gelo! Dialoguem, rompam com a indiferença! Comuniquem-se, de fato. Sempre se extasiem pelo ser humano, ISSO é ser jornalista. Concentrem-se nisso, não em procurar notas que não indicam o tipo de jornalistas que serão. Se ficarmos quatro anos assistindo aulas sem sentido, vamos pegar um diploma sem sentido, ter um emprego sem sentido, e, logo, uma vida sem sentido.

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